Resumo
Ocorre a largada e a
viagem pela costa africana, com o relato de várias regiões. Vasco fala de duas
coisas importantes que presenciou: a tromba marítima e o fogo de Santelmo.
Aparece o gigante Adamastor, que se apresenta como o cabo das tormentas. Ele diz que é um dos gigantes que enfrentaram Júpiter na batalha pelo Olimpo. Os gigantes foram vencidos e transformados em pedra, mas Adamastor foi para o mar. Ele conta sua história, questiona as intenções dos portugueses e fala sobre seu amor por Tétis e o engano de que fora vitimado.
Segue a navegação até a chegada à Melinde, onde Vasco conta toda essa história ao rei local. Vasco faz um elogio aos portugueses por causa de sua lealdade e ousadia, inclusive dizendo que os portugueses são superiores aos heróis da antiguidade.
Camões retoma a palavra e observa a boa impressão deixada pela narrativa de Vasco. Faz uma crítica aos portugueses que não valorizam a poesia e o trabalho poético. Para ele, se os heróis portugueses não são conhecidos, é pela falta de alguém que conte suas histórias. Chama a atenção pelo fato de ele ser o primeiro a cantar as glórias de Portugal.
Aparece o gigante Adamastor, que se apresenta como o cabo das tormentas. Ele diz que é um dos gigantes que enfrentaram Júpiter na batalha pelo Olimpo. Os gigantes foram vencidos e transformados em pedra, mas Adamastor foi para o mar. Ele conta sua história, questiona as intenções dos portugueses e fala sobre seu amor por Tétis e o engano de que fora vitimado.
Segue a navegação até a chegada à Melinde, onde Vasco conta toda essa história ao rei local. Vasco faz um elogio aos portugueses por causa de sua lealdade e ousadia, inclusive dizendo que os portugueses são superiores aos heróis da antiguidade.
Camões retoma a palavra e observa a boa impressão deixada pela narrativa de Vasco. Faz uma crítica aos portugueses que não valorizam a poesia e o trabalho poético. Para ele, se os heróis portugueses não são conhecidos, é pela falta de alguém que conte suas histórias. Chama a atenção pelo fato de ele ser o primeiro a cantar as glórias de Portugal.
Foco
narrativo
O Canto V do poema épico "Os Lusíadas" foi
escrito em primeira pessoa:
(17) "Vi, claramente visto, o lume vivo“
Até entrar em cena o gigante Adamastor, o texto é
narrativo. Depois, consiste de um diálogo indireto livre;
(41) "E disse - <<Ó gente ousada, mas que
quantas."
(49) "Mais ia por diante o monstro horrendo
Dizendo nosso fados, quando, alçado,
Lhe disse eu: - <<Quem és tu? que esse
estupendo"
Tempo
No canto V, o tempo é rigorosamente cronológico. A
ação se desenrola de maneira contínua, desde a armada partir de Portugal até
chegar a Moçambique
(30) "Mas, logo ao outro dia, seus parceiros,
Todos nus, e da cor escura treva,
Descendo pelos ásperos outeiros,
As peças vem buscar que est'outro leva,
Domésticos já tanto e companheiros,
Se nos mostram, que fazem que se atreva
Fernão Veloso a ir ver da terra o trato
E partir-se com ele pelo mato."
Espaço
A ação se processa nas embarcações da armada, nas
ilhas Santiago e
São Tomé, costas da África, Cabo da Tormenta e
Moçambique. O
oceano ocupa uma posição de destaque na narrativa.
Seguindo a
tradição medieval, Camões não se preocupou muito em
descrever
minuciosamente o espaço. Ao citar os lugares-comuns
partilhados, o
poeta activa os símbolos que constituirão a
referência espacial do leitor.
(8) "Passadas tendo já as Canárias ilhas,
Que tiveram por nome Fortunadas,
Entrámos navegando, pelas filhas
Do velho Hespério, Hespéridas chamadas,
Terras por onde novas maravilhas,
Andam vendo já nossas armadas.
Ali tomámos porto com bom vento,
Por tomarmos da terra mantimento."
Personagens
As personagens principais no Canto V são o narrador
e o Gigante Adamastor. As demais (marinheiros , um negro, negros, Fernão Veloso, Coelho, um
etíope, etíopes, três reis do Oriente, um rei, pessoas que navegam em batéis, Fernão Martins, povos de Mombaça)
não desempenham importância significativa no episódio do Gigante, razão pela qual não serão objecto de
preocupação. O narrador do episódio, Vasco da Gama, procura descobrir onde está
(26), não se intimida diante do gigante Adamastor
questionando-o (49). Roga protecção a Deus (60) e exorta os marinheiros
(90/100). (49) "Mais ia por diante o mostro horrendo Dizendo nossos fados,
quando, alçado, Lhe disse eu:- <<Quem és tu? que esse estupendo
Corpo certo me tem maravilhado!>>" O
Gigante Adamastor é robusto, de grande estatura, rosto barbudo, olhos
encovados, cabelos crespos boca negra,
dentes amarelos, membros grandes, voz grossa e horrenda (39/40). Revela que
foi aprisionado em virtude de seu amor
por Thetis e lamenta seu destino chorando medonhamente (60).
(40) "Tão grande era de membros, que bem posso
Certificar-te que este era o segundo
De Rodes estranhíssimo Colosso,
Que um dos sete milagres foi do mundo.
C'um tom de voz nos fala horrendo e grosso,
Que pareceu sair do mar profundo.
Arrepiam-se as carnes e o cabelo
A mim e a todos, só de ouvi-lo e vê-lo."
Camões coloca lado a lado uma personagem histórica e
uma mitológica. Vasco da Gama agiganta-se diante
do semideus pelo seu destemor (não foge,
questiona-o); Adamastor diminui-se diante do Capitão da
esquadra ao reconhecer-se prisioneiro de seu
destino. É impossível deixar de notar como o poeta, através do
confronto de personagens tão singulares, ressalta o
antropocentrismo. Ao homem a tudo é permitido, até
mesmo desafiar um semideus.
É por isto que já se disse que os "...heróis de
Camões raramente parecem de carne; falta-lhes carácter e
paixões. São em geral estátuas processionais,
solenes e impassíveis. Na resolução desta dificuldade de dar
dinâmica e caracteres ao seu poema, o Poeta
encontrou a seu favor certas praxes greco-romanas do gênero
que lhe forneceram protótipos de uma intriga entre
deuses apaixonados."
Linguagem
Em Camões a língua portuguesa assume seu perfil nacional. O processo de
"desgalização" da língua que
vinha ocorrendo no período anterior (1140-1350) se
consolidará na época do poeta. Camões maneja com
habilidade e harmonia um idioma bem definido, capaz
de expressar emoções e pensamentos nobres e
elevados.
Ao contrário do que defendem certos autores, não foi
Camões que fixou o uso da língua portuguesa, mas o
padrão culto da mesma tal qual era empregado no
século XVI. Isto não retira seu mérito, pois através de sua
obra o poeta transformou-se em paradigma
indispensável àqueles que pretendem expressar-se através da
língua portuguesa.
Em Camões, a prosódia submete-se ao império da
construção poética . Às vezes, o acento tônico é deslocado
para atender aos ditames da versificação. No Canto V
a palavra "etiope" aparece duas vezes:-
(32) "Um etiope ousado se arremessa"
(62) "Posto que todos os etiopes erram"
Nos primeiro caso a sílaba tônica recai em
"o", na segunda em "i" por necessidade
métrica, porque correspondem respectivamente a 4ª e
8ª sílabas de versos sáficos.
À época de Camões a ortografia não era uniforme.
Assim, não há por que ater-se a
este aspecto da obra.
A morforlogia camoniana é basicamente a mesma de
nossos dias. Entretanto, a
flexão verbal é vassilante. Assim, o poeta emprega o
verbo "consumir" no presente
do indicativo com a grafia "consume" e não
"consome".
(2) "E o mundo que com o tempo se consume"
Quanto à sintaxe, predomina a inversão:-
(8) "Eu sou aquele oculto e grande Cabo
A quem chamais vós outros Tormentório
Que nunca a Ptolomeu, Pompónio, Estrabo
Plínio e quantos passaram fui notório.
Aqui toda a Africana costa acabo
Neste meu nuca visto Promontório,
Que pera o Polo Antártico se estende,
A quem vossa ousadia tanto ofende."
Em ordem directa esta oitava ficaria mais ou menos
assim:-
"Eu sou aquele grande Cabo oculto
A quem vós outros chamais Tormentório
Que nunca fui notório a Ptolomeu, Pompónio,
Estrabo, Plínio e quantos passaram.
Toda a costa Africana aqui acabo,
Neste meu nunca visto Promotório,
Que se estende para o Polo Antártico,
A quem vossa ousadia tanto ofende."
Camões emprega largamente os superlativos ao longo
do poema:-
(39) "De disforme e grandíssima estatura"
(40) "De Rodes estranhíssimo Colosso"
Recursos
Expressivos
Ao longo do poema épico, Camões lança mão de
diversos recursos expressivos.(6) "Onde as aves no ventre o ferro
gastam"
Através desta hipérbole, o poeta aumenta a
capacidade natural das aves.
(37) "Porém já cinco sóis eram passados"
(42) "Da natureza e do úmido elemento"
Através destas metonímias, o autor quer referir-se
ao tempo de cinco dias e cinco noites e ao mar (definido
pela sua qualidade).
(38) "Bramindo o negro mar de longe brada"
(43) "Fizer por estas ondas insofridas"
Através destas prosopopeias, o autor atribui o mar e
às ondas atributos genuinamente humanos. Aliás,
"bramir" é sinônimo de "bradar",
mas este vocábulo, que pode referir-se indistintamente ao barulho da
natureza e a voz humana, foi usado pelo autor no
segundo sentido (não teria sentido ele referir-se ao barulho
das ondas duas vezes no mesmo verso).
(45) "Serei eterna e nova sepultura"
Através desta metáfora, o gigante Adamastor comunica
como pretende dar fim a vida dos navegantes.
(42) "Pois vens ver os segredos escondidos
Da natureza e do úmido elemento
A nenhum grande humano concedidos"
Esta passagem é antitética. O gigante Adamastor
pretende revelar aos navegantes segredos a nenhum
grande humano revelados. Ora, se os navegantes são
humanos, ainda que grandes, não deveriam conhecer
os segredos!
(39) "Não acabava, quando uma figura (substantivo)
Se nos mostra no ar, robusta e válida,
De disforme e grandíssima estatura (substantivo)
(40) "Tão grande era de membros que bem posso
(verbo)
Certificar-se que este era o segundo
De Rodes estranhíssimo Colosso (substantivo)Como
vimos anteriormente, as oitavas do poema épico em questão apresentam rimas
abababcc. Acima
destacamos um exemplo de rima pobre e outro de rima rica .